Estudo revela que investir em serviços de saúde sexual e reprodutiva pode ser uma das maiores ferramentas de transformação social em países em desenvolvimento
Países de baixa e média renda teriam grande oportunidade de transformação social se investissem mais em serviços de planejamento familiar. É o que emerge de um estudo realizado pelo Instituto Guttmacher em 2019. O levantamento apurou que cada quantia investida na prevenção da gravidez indesejada resultaria em três vezes mais economia para o país.
O estudo analisou o impacto do investimento em serviços que garantem métodos anticoncepcionais, cuidados médicos durante a gestação e o parto, assistência neonatal, além de tratamento para DSTs curáveis. Ao adicionar apenas US$ 4,80 per capita — o equivalente a R$ 25 — em serviços de saúde sexual e reprodutiva, um país em desenvolvimento conseguiria reduzir 68% das gestações não planejadas,71% dos nascimentos indesejados, 72% de abortos clandestinos, 62% de morte materna, 69% de morte neonatal, 88% de infecções de HIV em bebês e praticamente cancelaria os casos de infertilidade causada por DSTs não tratadas.
“O investimento feito hoje se transforma em redução de custos a curto e médio prazo”, afirma Lilian Leandro, cofundadora do Instituto Planejamento Familiar, o IPFAM. “Além de salvar vidas, prover saúde, bem-estar e autonomia para adolescentes e adultos, os serviços de planejamento familiar contribuem para o desenvolvimento social e econômico de um país”, lembra Lilian.
Participaram da pesquisa mulheres entre 15 e 49 anos, de 132 países de baixa e média renda per capita. Dos 923 milhões de mulheres em idade reprodutiva que desejam evitar a gravidez, 218 milhões, ou seja, cerca de 23%, têm suas necessidades de contracepção não atendidas. Essas mulheres querem evitar a gravidez, mas não têm acesso aos meios adequados. Como consequência, nos deparamos com uma alta taxa de gestação não planejada: 111 milhões por ano, somando os nascimentos em países de baixa e média renda, mais comum em adolescentes entre 15 e 19 anos.
A pesquisa também mostrou que, nos países em desenvolvimento, 127 milhões de mulheres dão à luz sem receber os devidos cuidados médicos todos os anos.
Em comparação, nos países de renda mais alta, 97% das mulheres têm seus filhos em centros de saúde, enquanto, nos países mais pobres, esse número não chega a 60%.
A desassistência e a falta de recursos também colocam a vida de mulheres em risco. Cerca de 35 milhões de abortos inseguros são realizados por ano e mais de 290 mil mulheres morrem em decorrência de complicações durante a gravidez e o parto. Doenças que já possuem tratamento — como clamídia, sífilis e gonorreia — tornam 133 milhões de mulheres inférteis anualmente.
“No IPFAM, nosso trabalho tem sido aumentar a consciência das pessoas a respeito do tema do planejamento familiar e esclarecer sobre os métodos gratuitos que hoje já são disponíveis para qualquer brasileiro por meio do Sistema Único de Saúde – SUS”, informa Ana Clara de Carvalho, cofundadora do IPFAM.
“Investimos em comunicação através dos meios digitais, com o objetivo de assegurar o acesso universal aos serviços e insumos de saúde sexual e reprodutiva, com foco no planejamento familiar, em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, que norteiam a atuação do Instituto”, completa.