COVID-19 tem impacto negativo no planejamento familiar

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Interrupção de oferta de meios contraceptivos e isolamento social contribuem para o aumento de casos de gravidez não planejada e de mortes de mulheres na pandemia

Além das mortes e danos causados pelo novo coronavírus, a pandemia está deixando uma outra sequela: o crescimento do número de gestações não planejadas, causadas pelo isolamento social e por interrupções nos programas de planejamento familiar em todo o mundo.

Segundo estimativa do Fundo de População das Nações Unidas – UNFPA, 12 milhões de mulheres em 115 países de renda média ou baixa perderam o acesso a serviços de planejamento familiar em função da pandemia.

Este cenário pode ter levado ao surgimento de 1,4 milhão de casos de gravidez indesejadas em um ano. Estudo realizado pela organização de saúde Avenir Health em parceria com o Google Mobility, mostrou que o planejamento familiar foi prejudicado por inúmeras causas: medo e dificuldade de deslocamento até os centros de orientação reprodutiva, interrupção nas cadeias de abastecimento, queda dos estoques de contraceptivos e sobrecarga nas instalações de saúde, impactadas pela demanda massiva da pandemia.

Cirurgias e outros procedimentos médicos considerados eletivos foram cancelados ou adiados, o que também diminuiu o acesso a métodos contraceptivos de longa duração ou definitivos. O DataSUS, plataforma que compartilha dados sobre a saúde pública no Brasil, registra que foram realizados 28.980 atendimentos para a inserção de DIU de cobre em 2020, uma diminuição de 43% em relação ao ano anterior. No mesmo período, o DataSUS também registra queda de 46% no número de cirurgias de laqueadura registradas, como também 51% de redução nas cirurgias de vasectomia. Houve ainda, em todo o país, uma redução de 40% na distribuição de outros métodos contraceptivos oferecidos pelos SUS.

A gravidez durante a pandemia também custou a vida de um número muito maior de mulheres. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, a taxa de mortalidade de gestantes nos seis primeiros meses de 2021 também foi 111% maior do que em 2020. E uma a cada dez grávidas ou puérperas morreu por complicações causadas pelo novo coronavírus.

“Muitas dessas gestações poderiam ter sido evitadas ou adiadas para outro momento, caso o acesso aos meios contraceptivos não tivesse sido limitado”, destaca Lilian Leandro, uma das fundadoras do Instituto Planejamento Familiar – IPFAM. “São vidas de mulheres perdidas ou que mudarão para sempre com o nascimento de filhos não planejados”.

Ana Clara de Carvalho Polkowski, também fundadora do IPFAM, explica que o instituto foi criado durante a pandemia para dar foco total à questão do planejamento reprodutivo. “É um assunto de profundo impacto na vida das pessoas e que precisa ser priorizado. Por isso, consideramos urgente abraçar essa causa”, explica. Desde seu surgimento, o IPFAM trabalha para aumentar a informação e o acesso regular aos métodos contraceptivos. “Nosso objetivo é dar oportunidades para que adolescentes, mulheres e homens possam escolher e planejar melhor o seu futuro reprodutivo, mesmo em situações críticas, como a que aconteceu na pandemia”, afirma Ana Clara.