Mais de 55% das gestações no Brasil não são planejadas

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Desinformação e falta de acesso regular aos métodos de planejamento familiar são as principais causas

Mais da metade das mulheres que dão à luz no Brasil não tinha planejado a gestação. Esse é um dado que emerge da pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz que ouviu 24 mil mulheres em dois anos. O estudo revela que 55% das brasileiras que tiveram filhos no período da pesquisa não desejavam ficar grávidas. Percentual significativamente superior ao do Reino Unido, que tem um sistema público de saúde como o brasileiro, onde apenas 16%[1] das mulheres declaram ter tido filhos não planejados.

“Quando a gravidez não é planejada ela impacta nas oportunidades que terão, principalmente, a mãe e o filho que vai nascer”, alerta Ana Clara Polkowski, cofundadora do Instituto Planejamento Familiar – IPFAM. “Filhos não planejados colocam em risco a saúde da mãe e do filho, impactam negativamente nos cuidados da primeira infância, reduzem as chances da mãe de estudar e alcançar melhores oportunidades no mercado de trabalho, como também promovem a violência doméstica e contribuem para o aumento da pobreza, entre tantas outras consequências negativas”, acrescenta. 

Outro fator relevante diz respeito ao modo como é feita da orientação à população: “a importância das consultas ginecológicas regulares quando a mulher inicia a vida sexual e a abordagem ativa do ginecologista quanto ao uso de métodos anticoncepcionais é direito de toda mulher e obrigação do Estado” lembra a obstetra e ginecologista Dra.Tânia Schupp. “Só assim vamos melhorar este índice de gravidez não planejada”, afirma a médica.

A pesquisa também revela que 80,5% dos brasileiros usam algum método anticoncepcional – ainda que com falhas na regularidade ou no modo correto de usar, o que acaba gerando mais casos de gravidez não planejadas. Perguntadas sobre os métodos preferidos, o mais desejado é a laqueadura, seguido da pílula anticoncepcional e da camisinha masculina. Mas o dado mais alarmante é que 19,5% da população em idade reprodutiva no Brasil não utiliza qualquer método contraceptivo.

“Existem lacunas no que as pessoas sabem sobre os métodos contraceptivos e pouca informação sobre como obtê-los”, alerta Lilian Leandro, cofundadora do IPFAM. “Parte do nosso trabalho é esclarecer a população sobre as várias alternativas oferecidas pelo SUS, a forma correta de utilizá-las e de obtê-las regularmente para um efetivo planejamento familiar. Isso é um direito de todo cidadão”, esclarece Lilian.

A gravidez não programada custa ao país R$4,1 bilhões anuais, segundo estudo realizado em 2014[2]. “Mas essa é só a porta de entrada do problema. A gravidez não planejada empobrece as famílias, tem impacto negativo na primeira infância e na renda dos indivíduos, lembra Lilian. As estatísticas dizem também que 75% das adolescentes que engravidam acabam deixando os estudos, perpetuando o ciclo da pobreza. “Nosso compromisso é educar a respeito do planejamento familiar e dar alternativas para que as pessoas possam mudar esse jogo”, complementa.


[1] The prevalence of unplanned pregnancy and associated factors in Britain: findings from the third National Survey of Sexual Attitudes and Lifestyles (Natsal-3), disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3898922/ .

[2] “The burden of unintended pregnancies in Brazil: a social and public health system cost analysis” Le, Bahamondes, Cecatti et al.Int J Womens Health, 2014 , disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4106956/